domingo, 3 de julho de 2011

Sobre crianças e absurdos

Mais uma vez assistimos à mais uma tragédia que ocorre no Brasil.
Um menino é assassinado por policiais em um beco em uma favela de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Mais uma vez a nossa cofiabilidade quanto à segurança do nosso país é posta em dúvida. Mais uma vez assistimos à um absurdo sem saber qual é a verdade que devemos acreditar, ou pelo menos se saberemos de toda a verdade da situação, se haverá justiça ou se mais um triste caso permanecerá sem as devidas ações judiciais. Será que a sociedade terá que mudar o seu olhar sobre os absurdos que acontecem e se acostumar com eles? Será que o mundo nunca se tornará mais do que mais uma sociedade suja, hipócrita e cruel? Será que os nossos valores estão tão distorcidos, ou será que não existem?
O menino se chama Juan. Desapareceu logo depois de uma testemunha vê-lo baleado em um beco. Tudo indica que ele foi levado pelos policiais. Tinha 11 anos, apenas. Sua mãe tem certeza de que jamais o verá outra vez.
Sabe, essa certeza é o que mais me aterroriza. Essa mãe simplesmente se deu conta de que não existe esperança pra uma justiça tão corrupta. Ela sabe que o filho não está vivo, e é porque, e só porque, ele seria uma testemunha contra os policiais que cometeram tal atrocidade.
Que tipo de pessoa tem coragem de matar uma criança de 11 anos? Não, não é preciso coragem, mas uma crueldade que não se explica. Existe, infelizmente.
O que será que aconteceu com o manto de cuidados que teríamos que ter com as nossas crianças? Aquela intocabilidade, completa incapacidade de se fazer algo ruim com elas? Sim, porque são elas que sustentam o mínimo de esperança tão vital à humanidade. Se perdermos isso, o que temo que sim, nada sobrará.



Esse é o privilégio da pausa que dou pra um pensamento, um comentário, uma indignação à quem lê.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

As Cousas do Mundo (Gregório de Matos)

Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa:
O velhaco maior sempre tem capa.

Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.

A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa,
Mais isento se mostra o que mais chupa.

Para a tropa do trapo vazo a tripa
E mais não igo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Verborragia

Saudades do pôr-do-sol, de andar de bicicleta, andar pela rua sem ter que ir realmente a algum lugar, saudades dos amores, da perna bamba, da falta de fôlego, da tarde vermelha e bucólica. Sinto que alguma coisa está diferente. Alguma coisa nova VAI acontecer. A força da correnteza que desce as montanhas não é nada além do produto da gravidade. Pois a calmaria é seu âmago, mas só se externa de forma agressiva, forte, dura. O que fazer quando um rio não sabe mais para onde seguir, senão o seu caminho que há anos vem sendo trilhado pela força das águas? E se um rio for apenas mais um lago-manso? O que fazer quando não se sabe para qual afluente ir? E se aquele curso d'água voluptuoso-volumoso se transforma em um braço estreito e imperceptível? O suor que dele brota é o esforço de se manter no caminho. Não se deve sair do caminho. É perigoso demais. Por que não? Por que sim? A solidão só aprece quando uma fresta de incerteza toma conta do espaço. Pára!! É sua vez!! Você escolhe!! E o medo? Existe. E depois? Depois a ecolha. E depois? A certeza. E depois? O medo? Mas as águas de um rio nunca voltam. Não são as mesmas. São outras? São um infinito. Um ciclo infinito. Mas um rio é aquele que sempre vai. Consciente ou incosciente, ele vai! A mata escura e densa e fria me acolhe de um jeito que não se sabe como. Me acolhe. Acolhe. Colhe. Olhe. O eco  da mata densa é previsível mas sábio. Corre! Corre! Os escuros olhos que me olham são a hipnose da alma. Hipnotizado, completamente hipnotizado. Olhos que se entreolham no escuro são como a descoberta do inevitável: o medo e o místico e o misterioso. Medo cura os olhos do que vier de bom e pleno. Dome. Medo. Demo. Mude.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Top 10 _Água Viva ( Clarice Lispector)

"Mesmo que diga "vive" ou "viverei" é presente porque eu os digo já."
"Não quero a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada."
"...eu, obra anônima de uma realidade anônima só justificável enquanto dura a minha vida."
"Por enquanto o tempo é quanto dura um pensamento."
"Escuta: eu te deixo ser, deixa-me ser então."
"É um tal mistério essa floresta onde sobrevivo para ser."
"E o que é proibido eu adivinho."
"A impressão é que só não vou mais até as coisas para não me ultrapassar. Tenho certo medo de mim, não sou de confiança, e desconfio do meu falso poder."
"Para te escrever eu antes me perfumo."
"A vida oblíqua é muito íntima."

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Não me abandone...jamais!

    Hoje, depois de rever um pouco do filme "Nerver let me go", entendi. Entendi o quanto a vida é curta e fugaz, assim como o tempo, assim como o momento que passamos com as pessoas que amamos. A vida é curta e extremamente valiosa. Valiosa como as coisas que não temos. Valiosa como as pessoas que perdemos. Valiosa como os nossos sonhos.
    Todos nós vamos embora um dia sem ao menos saber o porquê de estar vivo, no mundo, com pessoas tão humanas como nós mesmos. A angústia de não saber o futuro nos faz querer adiar cada coisa importante que temos pra fazer, como que se pudéssemos ter o controle da vida e saber que teremos tempo amanhã. Não! Não temos! É exatamente com isso que devemos nos acostumar. Muitas pessoas depositam toda a angústia de viver em uma vida após essa vida que temos.Como se pudéssemos esperar. Como se tivéssemos tempo pra esperar. Muitas pessoas depositam essa angústia no que chamam de fé. Uma fé confortável e tenra. Uma fé que se baseia somente no conforto de pensar que existe alguém conosco, nos olhando, cuidando como se cuida de um filho. Mas é só pelo simples prazer de estar confortável e se sentir amado. Sinto inveja de como as pessoas conseguem acreditar nisso de uma forma tão completa, mas ao mesmo tempo sinto que não conseguiria viver me enganando. Não é algo que eu possa simplesmente internalizar em mim, me forçar a isso. Não quero me forçar a nada! Entretanto respeito! Respeito a fé. Aprendi a respeitar.
    Tenho pensado frequentemente no meu irmão. No quanto eu queria abraçá-lo. Só-mais-uma-vez. Talvez essa seria uma das poucas vezes, se eu tivesse o poder de fazer com que isso acontecesse. Vão fazer 2 anos desde então, e eu ainda tenho a breve sensação de que algum dia ele pode voltar e dizer que só foi por um tempo, só o tempo de eu sentir saudades o suficiente dele e então ele ter certeza do quanto eu o amo! Eu sei que tudo isso, a forma como eu penso nele, tem que ser muito dosada, já que saudades constante é dor. Unicamente dor! Tenho que  me frear, assim como se freia um animal selvagem e tempestuoso, já que as coisas pra mim só funcionam se forem cheias de taras e obsessões. Sim! O controle aparente é só uma capa de convivências. Sei que se algum dia eu tirar será só pra hora do adeus.
    Eu entendo que as pessoas se vão, mas eu simplesmente não aceito. Rejeito essa possibilidade e carrego comigo um pouco da ilusão necessária à vida. A ilusão de que elas podem voltar, de que na verdade nunca se foram. Às vezes gosto de pensar como quando criança, quando não se tem o peso da vida, que tudo não passa de uma grande brincadeira, e no final tudo vai voltar ao normal. Talvez essa seja a minha fé. Uma fé que criei pra mim, só pra mim. Aliás, pra quem quiser compartilhar dessa "lagoa verde e morna" comigo. Não preciso estar sempre sozinha e armada contra qualquer tipo de aproximação, não é verdade? Mas não se pode deixar que a fantasia passe disso. Alguns chamam isso de Deus. Eu apenas chamo de fantasia. Aquele tesouro da infância que nunca se deve deixar perder. E talvez esse seja o sentido, o sentido de tudo isso! Não é fácil se tornar adulto, assim como não é fácil carregar esse tesouro. Uns quardam numa gaveta, bem lá no fundo pra que não passem por loucos ou irresponsáveis, e no final de tudo tentam recuperar. Mas às vezes é tão difícil, pois já se passou tanto tempo que perde-se a prática. Outros atiram-na em um lago profundo, e se escondem a vida inteira atrás de uma verdade-qualquer-inquestionável que criaram para se sentirem seguros e não ridículos. Nem se lembram mais do momento em que perderam toda a sorte de estarem vivos. E outros, finalmente, usam-na . Saboreiam-na. Porque quando se traz dentro do bolso, ela nunca se gasta.
    Sinto que por toda a minha vida, lá no fundo, esperarei que ele volte. Meu irmão. Não, ele nunca seria capaz de me abandonar. Ele sempre soube que ele era o meu porto seguro quando compartilhávamos da mesma sensação de abandono. Ele sabe que não poderia me deixar nem por um minuto, já que a vida inteira sempre éramos eu e ele. E de alguma forma ele não se foi, já que ele sempre estará guardado no fundo dos meus olhos. Vendo tudo o que ele não pôde experimentar da vida. Sentindo através das minhas mãos tudo o que não pôde tocar. E seguindo, através dos meus passos, todo o caminho que ele não pôde conhecer. Mais uma vez entendo. Entendo que foi uma escolha, mas isso eu nunca poderia aceitar. E para isso uso a minha boa e velha ilusão, que tento sempre guardar nesse bolso que lhe é de costume!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Aceitação? Não!

   É incrível como eu ainda tenho a capacidade de me assustar com o que eu vejo na cidade.
   Estava hoje no restaurante, e educadamente, pedi para que eu pudesse me sentar com uma senhora de aproximadamente 60 anos. A princípio perguntei:" Com licença", esperando que no mínimo ela levantasse a cabeça para me atender. Não, ela não levantou. Falei mais uma vez, só que desta vez um pouco mais alto, já que achei que talvez ela não tivesse ouvido. Mais uma vez ela não me atendeu! Insisti, já que não tinham mais lugares no restaurante e eu tinha que voltar rapidamente para o cursinho. E sem surpresas. Ela não respondeu. Sequer me olhou! Então, só então tive a certeza de que ela fazia de propósito. Ela me ignorou. Mas o mais revoltante não era ela ter me ignorado, e sim o fato de alguém ser tão egoísta a ponto de se negar a dividir um lugar na mesa, mesmo que seja com um estranho. Da última vez que eu insisti na pergunta, e dessa vez falando bem alto para que ela pudesse ouvir, ela, a muito custo, respondeu:"Olha, eu já estou terminando. Não dá pra você esperar?". E então eu saí, atônita, para procurar um outro lugar no restaurante. Encontrei! Sim, eu encontrei. Fui para a fila para colocar o meu almoço no prato. Algumas pessoas perceberam a indelicadeza da senhora, mas talvez não deram muita importância ou se deram acharam que eu devia me envergonhar pelo fato de alguém falar um pouquinho mais alto comigo e ser tão ríspida e ranzinza. NÃO! Eu definitivamente me recuso a fazer esse papel de constrangida! Pessoas assim que tem que se constranger do que são, das atitudes que as define! E enquanto houver tanto egoísmo e rudeza no mundo eu SEMPRE vou me assustar! Eu mais uma vez me recuso a aceitar, e principalmente aceitar os absurdos do mundo. Se vou morrer atônita com as coisas do mundo? Talvez. Mas aceitar? Definitivamente não!

domingo, 24 de abril de 2011

Impressões de um fim de semana planejado e não cumprido

    Planejei fazer tanta coisa nesse fim de semana. Estudar, por exemplo! Ao invés disso assisti à vários filmes e sinto que a qualquer momento explodirei se não escrever ou falar. Um deles foi "The Runaways", outro "The Wall". Saí da realidade dos filmes como se pudesse ser exatamente o que eu sempre quis. Brigar muito quando eu quiser brigar, gritar quando for preciso que eu seja ouvida!
   Ambos tocam no quesito liberdade de expressão, e eu havia me esquecido o quanto isso é importante para mim. Tenho vivido como máquina há muito tempo, mas eu não posso fazer isso. Isso não sou eu! Acho que não posso mais me frustrar porque as coisas não aconteceram do jeito que eu quis, ou me martirizar por causa disso. Afinal de contas, sou muitas. Vivo VÁRIAS vidas em uma só. Posso ser qualquer coisa, sem ter que ser tão estigmatizada quanto todos esperam! Sabe, me esqueci de como eu sou um grito. Sim, um grito ensurdecedor no escuro. Fatal e medonho. É o que eu sou. E se eu não puder ser isso, não posso ser mais nada.
   Assisti também ao filme "O sétimo selo" e experimentei um pouco do que é ter medo da morte num contexto de Idade Média. O que é jogar xadrez com a morte, seca e pálida, numa praia, sozinha. Eu e ela! Entendi o quanto a arte se faz imprescíndível às pessoas, à humanidade em geral, quando a criatividade é engolida pela fome, guerras e doenças.
     "Cisne negro" trata de um suspense psicológico angustiante. Sabe aquele tipo de filme que te faz ficar cansada? O filme é como uma música clássica, como Moonlight, de Beethoven. Persistente, constante, com ápices pequenos (se é que dá pra dizer isso), introspectivo,doloroso, envolvente, melancólico. Por ter "ápices pequenos" é muito cansativo. É como esperar ansiosamente por uma coisa que nunca chega. Me senti exausta, logo após o filme. Realmente me tocou de uma forma profunda. Vivi toda a obsessão da personagem por algum tempo, logo após ele. Sim, me fez querer dançar balé, algo que eu sempre quis fazer.
    Em "O jardineiro fiel" voltei aos meus dezesseis-anos-socialistas e não pretendo mais me desgrudar dessa idade. Ela é o que eu SOU. Os meus sonhos todos estão muito presentes e intensos nessa idade. Essa é a "realidade de uma vida inteira". Me fez ter certeza do que eu quero: DENÚNCIA. Eu quero uma denúncia da forma que eu sei fazer: amando. Quando eu penso em uma humanidade suja, hipócrita e vil, penso também que algo DEVE ser feito. Bem, uma das cenas mais marcantes, além do filme todo, é claro, é a cena do discurso: "Não, não há homicídios na África. Só mortes lamentáveis. E dessas mortes se originam os benefícios da civilização. Benefícios que podemos pagar tão facilmente, porque essas vidas foram compradas com baixo custo". É autoexplicativa e verdadeira, infelizmente.
   Tudo isso me fez pensar em como a vida é curta e fugaz. O tempo é fugaz. Sabe, não posso mais medir a minha vida baseando-se no tempo. Não nesse tempo convencional. Minha tia me disse uma vez que o tempo da minha avó é outro. Mais lento, no sentido físico, do corpo dela, apesar de sua cabeça estar presa num corpo que já não anda tão rápido mais, por exemplo. E pensando bem, pode ser um tempo que passa muito depressa, frente à sua idade e os consequentes acontecimentos dela. Sendo assim, posso concluir que o tempo é muito relativo. A forma que se vive, sim, define se você saboreou ou não o suficiente a vida. A vida não é só definida pela quantidade de coisas que se fez em um curto espaço de tempo. É definida pela coleção de sabores diferentes que se experimentou, as impressões palpáveis, realmente SENTIDAS, que se teve. Acho que deixar de cumprir responsabilidades às vezes é bom para o lado dissoluto e delicioso da vida! Mas tudo isso também pode ser apenas o relato de mais uma procrastinadora de tarefas. Vou terminar com a melhor frase do filme "De olhos bem fechados": "...tenho a mesma certeza de que a realidade de uma noite, pra não dizer de uma vida inteira, pode ser toda a verdade."