domingo, 24 de abril de 2011

Impressões de um fim de semana planejado e não cumprido

    Planejei fazer tanta coisa nesse fim de semana. Estudar, por exemplo! Ao invés disso assisti à vários filmes e sinto que a qualquer momento explodirei se não escrever ou falar. Um deles foi "The Runaways", outro "The Wall". Saí da realidade dos filmes como se pudesse ser exatamente o que eu sempre quis. Brigar muito quando eu quiser brigar, gritar quando for preciso que eu seja ouvida!
   Ambos tocam no quesito liberdade de expressão, e eu havia me esquecido o quanto isso é importante para mim. Tenho vivido como máquina há muito tempo, mas eu não posso fazer isso. Isso não sou eu! Acho que não posso mais me frustrar porque as coisas não aconteceram do jeito que eu quis, ou me martirizar por causa disso. Afinal de contas, sou muitas. Vivo VÁRIAS vidas em uma só. Posso ser qualquer coisa, sem ter que ser tão estigmatizada quanto todos esperam! Sabe, me esqueci de como eu sou um grito. Sim, um grito ensurdecedor no escuro. Fatal e medonho. É o que eu sou. E se eu não puder ser isso, não posso ser mais nada.
   Assisti também ao filme "O sétimo selo" e experimentei um pouco do que é ter medo da morte num contexto de Idade Média. O que é jogar xadrez com a morte, seca e pálida, numa praia, sozinha. Eu e ela! Entendi o quanto a arte se faz imprescíndível às pessoas, à humanidade em geral, quando a criatividade é engolida pela fome, guerras e doenças.
     "Cisne negro" trata de um suspense psicológico angustiante. Sabe aquele tipo de filme que te faz ficar cansada? O filme é como uma música clássica, como Moonlight, de Beethoven. Persistente, constante, com ápices pequenos (se é que dá pra dizer isso), introspectivo,doloroso, envolvente, melancólico. Por ter "ápices pequenos" é muito cansativo. É como esperar ansiosamente por uma coisa que nunca chega. Me senti exausta, logo após o filme. Realmente me tocou de uma forma profunda. Vivi toda a obsessão da personagem por algum tempo, logo após ele. Sim, me fez querer dançar balé, algo que eu sempre quis fazer.
    Em "O jardineiro fiel" voltei aos meus dezesseis-anos-socialistas e não pretendo mais me desgrudar dessa idade. Ela é o que eu SOU. Os meus sonhos todos estão muito presentes e intensos nessa idade. Essa é a "realidade de uma vida inteira". Me fez ter certeza do que eu quero: DENÚNCIA. Eu quero uma denúncia da forma que eu sei fazer: amando. Quando eu penso em uma humanidade suja, hipócrita e vil, penso também que algo DEVE ser feito. Bem, uma das cenas mais marcantes, além do filme todo, é claro, é a cena do discurso: "Não, não há homicídios na África. Só mortes lamentáveis. E dessas mortes se originam os benefícios da civilização. Benefícios que podemos pagar tão facilmente, porque essas vidas foram compradas com baixo custo". É autoexplicativa e verdadeira, infelizmente.
   Tudo isso me fez pensar em como a vida é curta e fugaz. O tempo é fugaz. Sabe, não posso mais medir a minha vida baseando-se no tempo. Não nesse tempo convencional. Minha tia me disse uma vez que o tempo da minha avó é outro. Mais lento, no sentido físico, do corpo dela, apesar de sua cabeça estar presa num corpo que já não anda tão rápido mais, por exemplo. E pensando bem, pode ser um tempo que passa muito depressa, frente à sua idade e os consequentes acontecimentos dela. Sendo assim, posso concluir que o tempo é muito relativo. A forma que se vive, sim, define se você saboreou ou não o suficiente a vida. A vida não é só definida pela quantidade de coisas que se fez em um curto espaço de tempo. É definida pela coleção de sabores diferentes que se experimentou, as impressões palpáveis, realmente SENTIDAS, que se teve. Acho que deixar de cumprir responsabilidades às vezes é bom para o lado dissoluto e delicioso da vida! Mas tudo isso também pode ser apenas o relato de mais uma procrastinadora de tarefas. Vou terminar com a melhor frase do filme "De olhos bem fechados": "...tenho a mesma certeza de que a realidade de uma noite, pra não dizer de uma vida inteira, pode ser toda a verdade."

Um comentário:

  1. Pra começar, o título me lembra nossos fins de semana em Itabira... Quase sempre fugíamos dos planos!

    Esse post me lembrou sua fase quando te conheci. Confesso que me senti um pouco velho ao perceber o quanto mudamos.

    Poxa, você assistiu até "O Sétimo Selo" de Bergman!
    Que orgulho dessa menina!
    Filme difícil, não?!

    Mas gostei mesmo de seu comentário sobre "Cisne Negro".
    Você foi capaz de descrever extamente a sensação
    de que tive ao assistir o filme: cansaço.
    E claro que não podia deixar de usar a música
    para enriquecer a análise.
    Foi um dos melhores filmes que assisti recentemente.

    "O Jardineiro Fiel" é outro filme sufocante.
    Ele te deixa com uma inquietação, com vontade de mudar alguma coisa.

    O último parágrafo sobre o tempo foi simplesmente fantástico!
    Estou realmente orgulhoso de você.

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